Há quem lhe chame o “Alqueva do Tejo” e as semelhanças são muitas. O objetivo do Projeto Tejo é regar 300.000 hectares de terras agrícolas no Vale do Tejo, no Oeste e na Península de Setúbal, recorrendo à água do rio Tejo, com açudes e novas barragens. O investimento estimado é de 4,5 mil milhões de euros e está aberto a investidores: públicos e privados.
Açudes do Liz (acima) e de Abrantes permitem uma gestão em tempo real das quotas de água e são inspiração para o Projeto Tejo.
Passados 6 meses sobre o lançamento do Projeto Tejo, falamos com Jorge Froes, um dos promotores deste projeto, que já foi apresentado a governantes, partidos políticos, autarquias, banca, associações de agricultores e ambientalistas, entre muitos outras entidades. «O sucesso do Projeto Tejo tem sido contagiante, com muita passa palavra», afirmam os seus promotores.
O que é o Projeto Tejo?
É um projeto de fins múltiplos que pretende tornar o Tejo navegável desde Vila Franca de Xira até Abrantes, para desenvolver o turismo, a piscicultura, manter e expandir a área regada atual no Ribatejo, Oeste e Setúbal. Vai custar 4,5 mil milhões de euros quando concluído, dentro de 30 a 40 anos, mas com 100 milhões de euros consegue-se começar a obra daqui a 4 ou 5 anos.
Porque surge o Projeto Tejo neste momento?
O Rio Tejo está morto, é um esgoto, e o que se pretende é pôr um “pacemaker”, criando 6 açudes ao longo do Tejo: em Castanheira do Ribatejo, Valada do Ribatejo, Santarém, Golegã, Almourol e Abrantes. Criada esta escada de água, podem fazer-se estações de bombagens, redes de rega para as lezírias e as encostas do Ribatejo, passando também para o Oeste, através de uma bombagem parecida com a dos Álamos no Alqueva, e abastecendo Setúbal, através do Rio das Enguias (toda a zona de Canha, Poceirão, etc), num total de 300.000 hectares, a 30 anos.
Miguel Campilho e Manuel Campilho, administradores da empresa Lagoalva, especializada em produção agrícola, venda de equipamentos e prestação de serviços para agricultura, são também promotores do Projeto Tejo
Como são os açudes de que fala?
São açudes de borracha, insufláveis com ar comprimido, no máximo de 3 metros de altura, sem peças metálicas, atualmente é a melhor tecnologia que existe. São de fácil manutenção e permitem uma gestão em tempo real das quotas de água. No Inverno, as camaras de ar são esvaziadas, é como se não existissem açudes, as cheias e a areia passam, não há assoreamento nenhum. Na Primavera, e à medida que o nível da água do rio desce, as camaras de ar começam a ser cheias e, chegando o Verão, repõem a quota de água normal do Tejo. Permitirá manter a área atual de regadio, que é de cerca de 70.000 hectares. Estes açudes vão reabastecer os aquíferos de águas subterrâneas, vão garantir que a Lezíria Grande de Vila Franca (7000 hectares de rega) tenha sempre água doce, coisa que atualmente nem sempre acontece, e permitirão expandir a área de rega em cerca de 20.000 hectares, porque o Rio Tejo neste momento não tem água para mais. Permite criar uma escada de água de Vila Franca de Xira até Belver, com pequenas eclusas de 3 a 4 metros de altura, para passagem dos barcos, potenciando também o desenvolvimento do turismo.
O Projeto Tejo é modelar? Poderá avançar por fases?
Alguns economistas, como o Dr. Daniel Traça, defendem que este tipo de projetos devem ser feitos de baixo para cima, de forma modelar, embora integrada: fazer um açude e uma rede, depois outro açude e por aí a fora. Devem ser envolvidos todos os players de cada região: associações de agricultores, autarquias, etc.
Não precisam de estar aprovados todos os açudes e todas as localizações para que o projeto avance?
Será necessária uma avaliação ambiental estratégica do projeto na sua globalidade, mas cada obra poderá avançar de forma independente, após aprovação do respetivo estudo de impacto ambiental. Por exemplo, a Câmara Municipal de Abrantes fez um açude deste tipo, depois da licença que lhe foi concedida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Em que fase está o Projeto Tejo?
Estamos agora numa fase de angariação de fundos para avançar com os estudos preliminares necessários a dar “substância” ao Plano e a rebater algumas dúvidas colocadas pelas pessoas (água suficiente para rega, assoreamento do rio, etc.). Já conseguimos 1/4 da verba necessária, pelo que prevemos que os primeiros estudos, os mais importantes, arranquem em Outubro, a saber: o Balanço Hídrico, para provar que os caudais disponíveis são suficientes quando combinados com as barragens (existentes e/ou a construir) nos afluentes; a Localização, Caraterização e Custo de Novas Barragens e dos Açudes previstos, para provar que estes açudes não inundam os terrenos agrícolas marginais, que criam a “estrada de água” que permitirá a navegabilidade, e que terão custos aceitáveis.
O custo elevado do investimento pode ser um entrave à sua concretização?
O investimento terá que ser público como acontece com os restantes regadios, e é para ser feito a 30/40 anos, o que dá 120 M€ /ano (semelhante ao Alqueva) e parte do investimento (15 a 20%) é “não agrícola”, permitindo recorrer a diferentes linhas de crédito). Estão previstos estudos económicos que verificarão a viabilidade económica do Projeto, esperamos mesmo que estes estudos provem ser viável o investimento privado nas infraestruturas e equipamentos, ao contrário do Alqueva, que é totalmente público. Basta ver que o custo da água (exploração, sem investimento) no Projeto Tejo deverá ser cerca de 25% mais barato do que no Alqueva, o que poderá dar “margem” para o investimento privado.
Jorge Froes é formado em Engenharia Rural e tem várias décadas de experiência na execução de projetos hidráulicos, incluindo diversos no Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva. Trabalha na empresa Planos Essenciais.
O atual Governo comprometeu-se em avançar com algum investimento no Projeto Tejo?
Falámos com o Ministro da Agricultura por duas vezes, ele gostou do projeto, mas não se comprometeu. Disse que são necessários estudos técnicos sobre a disponibilidade de água no rio Tejo (a que vamos dar início) e que eventualmente pode ser integrado no Portugal 2030. Também apresentamos o projeto ao Ministro do Ambiente, mas deste responsável não obtivemos comentários. O Plano será formalmente apresentado ao Governo depois de concluídos os estudos preliminares. O investimento é suficientemente grande para ser o Governo a liderar o processo (da sua execução).
Que tipo de investidores privados podem estar interessados?
A EDP é um exemplo de um potencial investidor. Estamos em conversações com a EDP para celebrar um contrato em que a empresa cede a água das barragens que gere no Tejo em troca da compra de energia que o projeto vai necessitar.
Tem que haver um interesse estratégico por parte dos investidores privados em deter a infraestrutura da água…
Sim. Por exemplo, o projeto pretende a médio prazo construir uma barragem no Alvito (Ribatejo), e se esta avançar na dimensão que a APA considera viável (300 milhões de m3 de capacidade de armazenamento), a EDP (que no passado quis avançar com esta barragem, mas foi chumbada) pode vir a integrar este investimento, gerindo a parte elétrica. Também há indústrias de pasta de papel e de cortiça localizadas ao longo do Tejo que podem estar interessadas em investir. Por outro lado, hoje em dia há fundos de investimento internacionais com interesse em aplicar capitais em recursos estratégicos como é a água. O modelo de financiamento do Projeto Tejo está totalmente em aberto.
Qual é a posição da EDP sobre a vossa proposta de “disponibilizar água em troca de compra de energia”?
O Estado fez um contrato de concessão da exploração hidroelétrica de todas as barragens do Tejo à EDP, um total de 1.900.000 m3 água (é a capacidade armazenada no rio Tejo, do lado português). Deste total, 1.000 milhões m3 estão na Barragem de Castelo de Bode e são usados para abastecimento urbano, sobram 900 milhões m3 de capacidade armazenada (barragens de Pracana, Cabril, Bouçã, Santa Luzia, Belver, Fratel, entre outras) que são suficientes para cobrir os 700 milhões de m3 de água/ano que o Projeto Tejo necessitará na sua fase final de execução. O presidente da EDP, António Mexia, recebeu-nos e mostrou-se aberto a discutir uma proposta de gestão integrada dos recursos hídricos. Ou seja, a EDP turbina água e liberta-a para o Projeto Tejo, que por sua vez compra à EDP a energia elétrica de que necessitará (700 gigawatts /hora). Esta gestão integrada dos recursos hídricos já acontece na barragem de Alqueva e na barragem da Aguieira. O nosso objetivo é ter um acordo de princípio com a EDP.
+ Tejo -Associação para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável do Tejo
+ Tejo é o nome da associação que vai levar por diante o Projeto Tejo, integrando pessoas, empresas e outras organizações públicas e privadas, que queiram participar na divulgação do Projeto e financiar estudos. A + Tejo fica sediada na Associação de Agricultores do Ribatejo e pode ser contactada através do email: projeto.tejo@gmail.com
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