Agroportal, 9 de Fevereiro 2022.
Um dos nossos problemas, é que os media e comentadores não têm memória. Por isso assuntos que tiveram relevo, são enterrados logo que nascem.
Lembro o caso da grave seca em curso, das previsões de que ao Sul do Tejo caminharemos para graus elevados de desertificação, das barragens transformadas em charcos e – no sentido oposto – que a barragem do Alqueva é um “oásis no Alentejo” e tem mais água agora que todo o sistema de barragens espanholas no Guadiana.
Para se perceber o “oásis”, é impressionante – hoje que se comemoram 20 anos do arranque do Alqueva – o mapa do Alentejo com os perímetros de rega (atual e previsto para 2030) acessível no site da EDIA.
Em 19 de outubro, em Tomar e a convite da CGD, falei detalhadamente do chamado “Projeto Tejo”, um sistema de barragens e canais para rega e abastecimento, que foi esquecido no PRR por oposição de alguns ambientalistas que influenciaram o ministro.
Este é o mapa do que poderá acontecer:
Em rápido resumo, o Projeto Tejo abrange 43 municípios (do Ribatejo, Beira Baixa, Oeste, Setúbal) e 1.500.000 habitantes.
Se for para a frente, e em 25 anos, vai permitir:
a) triplicar o regadio atual para 300 000 hectares, sem usar águas subterrâneas, b) aumentar mais de 500% o rendimento agrícola numa zona de minifúndio onde ainda existem mais de 30.000 agricultores, c) criar um novo destino turístico muito forte ligado ao Tejo, d) tornar o Tejo navegável (como já queria Filipe 1º) até Espanha o que em si mesmo, e como acontece por essa Europa fora, é uma fonte de desenvolvimento económico em época de neutralidade carbónica, e) regularizar as margens do Tejo, f) vigiar as recorrentes descargas poluentes, g) criar 40 000 empregos novos, h) evitar perder em cada ano o uso económico – para além da atual produção de eletricidade – de 13 biliões e trezentos milhões de litros de água i) tudo isto com um investimento por hectare com custo inferior ao Alqueva, e em que j) o preço da água para regadio será metade do preço no Alqueva.
A maioria absoluta, a seca gravíssima, a necessidade de adaptação a alterações climáticas num País que caminha para deserto em metade do território, tudo isso obrigaria a que este tema estivesse na ordem do dia.
Não é possível fazer-se? Sinceramente acho que depende da opinião pública, que por sua vez depende dos media. Como dizem os amigos brasileiros, fico no aguardo para ver se avança o tema ao menos para debate. […]
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